Casa Milà: Excêntrico mosaico de influências.

Prefácio

O objetivo desse trabalho é analisar as principais influências que contribuíram para o projeto da casa Milà,de Gaudí, em Barcelona. Levando em consideração tanto a parte histórica do país em que a obra foi construída, quanto as principais referências do autor, sua forma de pensar e principais projetos; apresentando os principais aspectos desde a antiga arquitetura espanhola a época ao início da construção da Casa Milà (1906).
A partir de então conclui – se que a obra de Gaudí em questão foi derivada de uma junção de pequenas características peculiares de cada estilo apresentado, tornando assim a Casa Milà (entre outras obras suas) um verdadeiro mosaico de influências, mas ao mesmo tempo uma obra essencialmente excêntrica.

Arquitetura Espanhola

A arquitetura da Espanha até o século XVIII foi influenciada por diversos povos que lutaram pela conquista da península ibérica.
Inicialmente podemos citar a ocupação dos povos árabes (após queda do império romano) que contribuíram para a arquitetura da Espanha introduzindo elementos arquitetônicos da arquitetura islâmica no país, e essa reinterpretarão das formas islâmicas nos elementos ocidentais vai denominar-se Estilo Múdejar.

Castelo de Alhambra - GranadaCastelo de Alhambra,em Granada
A decoração é composta de folhagens rígidas,inscrições árabes e padrões geométricos trabalhados em arabescos.

Detalhe arabescos nas portas e janelas do CasteloDetalhe dos arabescos em portas e janelas

 
Durante o século XIII, o estilo gótico francês chega à Espanha como pode ser conferida na catedral de Segóvia.

Catedral de Segóvia

Catedral de Segóvia

A maioria dos prédios construídos no século XVI assumiam estruturas renascentistas, porém a ornamentação das fachadas era uma verdadeira fusão do gótico, do mouro e do renascentista, formando um estilo decorativo espanhol peculiar, denominado Plateresque(A expressão significa “à maneira de um prateiro” – significado Plata -prata em espanhol)
Nesse estilo as principais características são ornamentos delicados, e sua forma artística baseia-se muito do trabalho do Renascimento Italiano.

Casa de las Muertes

Casa de Las Muertes

 

Palácio de MonterreyPalácio de Monterrey

Fachada da Universidade de Salamanca

Fachada da Universidade de Salamanca,Espanha

O neoclassicismo também esteve presente podendo ser visto na igreja de São Francisco el Grande em Madrid, enquanto a interpretação do rococó é vista no Palácio do Marquês de Duas Águas, em Valência.

Palácio do Marquês de Duas Águas – FachadaPalácio do Marquês de Duas Águas
Palacio del Marques de Dos Aguas

 Palácio do Marquês de Duas Águas

Próximo ao fim do século XIX e começo do século XX, Gaudí nega a funcionalidade da arquitetura, criando edifícios inesperados e surrealistas, justamente pelo fato de não gostar da linha reta, realizando sua arte com inspiração da natureza, dando vida às massas e formas com suas cores e detalhes. O que tornou o arquiteto famoso por sua ousadia e criatividade encontradas em suas principais obras, como por exemplo, o parque Guell,a bizarra igreja da Sagrada Família e a Casa Millá,que vai ser considerada como parte do Estilo Art Nouveau.

 

Parque Guell

 Parque Guell

Igreja da Sagrada Família

 Igreja da Sagrada Família – Barcelona

Casa Milà

 Casa Milà

 

Art Nouveau

Surgiu na Europa a partir do final do século XIX.

“A Art Nouveau adorava a leveza, a sutileza, a transparência e, naturalmente, a sinuosidade.” (PEVSNER, Nikolaus.) 

A preocupação com a originalidade da forma (umas das suas principais características), teve uma relação direta com a Segunda Revolução Industrial, pois a partir de então deu início com a exploração de uso de novos materiais, como o ferro e o vidro que passaram a compor ornamentos internos e fachadas.

Como forte tendência inovadora e simbolista, o Art Nouveau destacou as linhas curvas e formas orgânicas inspiradas em elementos da natureza como folhagens e flores. E só a partir do uso desses novos materiais foi possível a introdução desses novos elementos decorativos que tinham formas delicadas, irregulares e assimétricas.

 

O estilo teve início na arquitetura com o arquiteto Victor Horta em seu projeto da residência Tassel, em Bruxelas; que possui as características acima citadas, além também de explorar elementos de textura e cor nos revestimentos, introduzir aberturas irregulares e uso do ferro fundido como foi citado.

Ao mesmo tempo em que o Art Nouveau introduz novos materiais, utiliza formas influenciadas pelas formas da natureza; pode ser considerado como um estilo burguês revolucionário.

 

Para Argan o Art Nouveau do ponto de vista sociológico é fenômeno urbano novo, que deveria atender a “necessidade de arte de todos”, mas ao mesmo tempo trata o estilo como um “fetiche da mercadoria” e ornamental influenciado pela indústria baseada em princípios de aceleração do tempo de consumo e sua substituição, concluindo assim, que o Art Nouveau não é um estilo de caráter popular, mas totalmente burguês e elitizado.

Um dos grandes representantes da Art Nouveau é o “artista arquiteto” Gaudí.

Antoni Gaudí

 Gaudi

 

Antoni Placid Gaudí i Cornet nasceu em Reus, Catalunha, na  Espanha, em 25 de Junho de 1852;
morreu em Barcelona, em 10 de Junho de 1926.

Conhecido por suas obras excêntricas, Gaudí é considerado como integrante do Art Nouveau,apesar de ter uma forma diferente de pensamento sobre a concepção de projeto.

“Gaudi é um grande arquiteto: perfeitamente ao par das tendências da época apesar de seu almejado isolamento, e mesmo mais ousado e livre de preconceitos no léxico formal, na técnica, no abandono do impulso lírico do que Van de Velde ou um Horta. Com a inesgotável novidade de suas invenções construtivas e decorativas, ele consegue demonstrar que a linguagem arquitetônica moderna teria possibilidades poéticas bem maiores, se não a detivesse a preconceituosa ideologia social e o empenho de manter a criação artística no âmbito do útil”. (ARGAN, Giulio. Arte Moderna, pág.220). 

De origem humilde, o arquiteto desde cedo mostrou interesse sobre o conhecimento da arquitetura, indo então,em 1869, estudar em Barcelona, considerada a cidade mais moderna da Espanha.

O estilo de Gaudí é multifacetado, e não podemos caracterizá – lo com características rígidas e regulares, pois ao mesmo tempo em que utiliza painéis de cerâmica coloridos utiliza formas curvas de ferro.

Da mesma forma que seu país teve várias origens e influências, Gaudí também aplica essa variedade cultural em seus projetos, passando assim seu estilo por várias fases variando desde o estilo Múdejar (Casa Vicens, de 1878-80), ao estilo gótico como no Palácio Episcopal de Astorga (1887-1893).

Casa Vicens

 Casa Vicens

Palacio Episcopal de Astorga

Palácio Episcopal de Astorga

“Ainda era essencialmente, o artesão medieval cuja decisão final só podia ser tomada ao assistir á execução do que ele talvez tivesse esboçado, mas nunca finalizado, no papel.” (Pevsner,NICOLAU 2001).

Gaudí tinha contato com os operários, e se fosse preciso discutia e rejeitava; fato comprovado nas suas excelentes obras com um resultado de alto nível.

Apesar de ter uma arquitetura com caráter inovador, Antoni Gaudí é revivalista,e como citado anteriormente ele recebeu influencias do passado e tirava suas próprias conclusões.

Um dos seus influenciadores foi o arquiteto francês Viollet-le-Duc,que também era revivalista e foi responsável em seu país por promover o retorno às formas góticas da arquitetura.

Com o tempo, Gaudí passou a ter um estilo pessoal em seus projetos, utilizando seu rico e vasto conhecimento sobre várias tendências e estilo diversos, possuindo a partir de então seu estilo própria, e um exemplo de um projeto característico disso é a Casa Millá.

 

“Desse modo, Gaudí chegou a realizar uma arquitetura plenamente visual, cuja verdadeira estrutura é a arquitetura da imagem; como o material da imagem é a cor, o material de sua construção há de ser a cor, apenas a cor; o restante, cimento, tijolos ou ferro, é apenas o material para suporte. Essa totalidade de explicitação visual, essa busca do conteúdo intrínseco das formas, e não de formas que se adaptem a um conteúdo dado,essa construtividade da imagem,em suma constituem as razões da importância histórica de Gaudí(…) “

(ARGAN, Giulio. Arte Moderna)

 

 

Casa Milà  I Camps ” La Pedrera”

(1906 – 1910)

 

Casa Milà

 Casa Milà

Situada no número 92 do Passeig de Gràcia no bairro Eixample de Barcelona, Catalunha, Espanha, é o maior edifício concebido por Gaudí.

As formas curvas e onduladas contínuas da fachada eliminam a idéia de esquina, tornando um edifício sinuoso ao longo da avenida.

Fachada Casa Milà

 Detalhe da fachada

O edifício pode ser considerado mais uma escultura que um edifício convencional dotado de mais funcionalidade que ornamentação (mas esse era o pensamento de Gaudí,que o diferia dos outros arquitetos,como cita o autor Argan em seu livro ao se referir sobre a forma divergente de pensar do arquiteto Adolf Loss(1870 – 1933): ” para Adolf Loos a sociedade não precisava de arquitetura e sim de moradia.”)

Destacam-se a primeira vista os balcões trabalhados em ferro forjado (constantemente o arquiteto emprega tradições artesanais da sua terra como cerâmica, vitrais e ferro forjado), cujo formato imita plantas trepadeiras; recurso que vai ser amplamente empregado por Gaudí em seus projetos, a utilização de elementos da natureza na ornamentação de seus projetos.

 

Balcão

Balcão

No total, o edifício conta com cinco andares, um sótão e um terraço, além de vários pátios internos articulados.

Elevação

Elevação

As escadas de acesso para os primeiros andares foram tratadas como elementos exteriores, cobertas com uma estrutura semitransparente que a acompanhada e articula. Gaudí foi responsável pelo desenho da obra, inclusive os de acabamento.

Escada

 

Entrada

Interno

 

 

Detalhe

 

O terraço é um dos locais mais surpreendentes do edifício. Além de garantir uma bela vista da cidade de Barcelona, o terraço é composto por uma série de chaminés surrealistas.

 

 

Terraço

 Terraço Casa Milà

Terraço

 

Bibliografia

 

 

ARGAN, Giulio Carlo. El Arte Moderno 1770-1970. Valencia, Fernando Torres Editor, 1984.

 

FRAMPTON, Kenneth. História Crítica de la Arquitectura Moderna. Barcelona, Gustavo Gilli, 1987.

 

PEVSNER, Nikolaus. Origens da arquitetura moderna e do design. São Paulo, Martins Fontes, 1981.

 

BENEVOLO, Leonardo; Historia da Arquitetura Moderna, Ed. Perspectiva, 1998.

 

GAUDÍ, Antoni. Gaudí :150 fotografias. – Edição [17. ed.] – Editorial Escudo de oro, [1997]

 

Antoni Gaudí: 150 anos de arquitetura inovadora – http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp149.asp

Acessado em 21/07/09

 

http://www.authorstream.com/Presentation/vfreire-184833-gaudi-travel-places-nature-ppt-powerpoint/

Acessado 21/07/09

 

http://www.gaudi2002.bcn.es

Acessado 20/07/09

 

 

 

Uma resposta to “Casa Milà: Excêntrico mosaico de influências.”

  1. paulo Says:

    lindo de viver

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